sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O complexo que permeia o simples


(Hoje acabou a luz aqui nas redondezas. Tudo ficou escuro de repente. Sorte a minha que enxergo melhor do que vocês. Mas me peguei pensando enquanto andava pela casa “por que enxergo essas coisas desse jeito? Como é o mundo se eu ficar de olhos fechados? Ele existe? Ou ele se forma, repentinamente, a cadê vez que eu abro os olhos?")


As luzes que adentram a sala, difusas, se embaralham em padrões aleatórios e esbarram em objetos e anteparos que encontram pelo caminho.

Que sei eu delas, e o que elas são pra mim além de raios, ondas ou seja lá qual outro padrão físico que invade meus olhos, sem a minha permissão prévia, e me permite enxergar o que me rodeia?

Quiçá enxergasse eu o que realmente é o mundo em si. Que enxergo eu além de reflexo?

O mundo, tal como o vemos, é um reflexo de alguma coisa, por definição.

E o padrão complexo de comportamento da luz é capaz de nos dar detalhes mínimos de cada coisa que nos rodeia.

A desordem que promove a ordem.

O caos que organiza.

A complexidade que transmite a idéia absurda de (uni)linearidade.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009


Pensamentos de um dia preguiçoso

(Juca, o cão filósofo, acordou hoje com um pouco de preguiça, e pediu para que eu anotasse o que ele iria ditar. Quem sou eu para lhe negar alguma coisa? A cada palavra escrita ia me surpreendendo. Positivamente, claro. E não é que aquele cachorro pensava umas coisas interessantes? Dei um sorrisinho após o terceiro parágrafo, e fui interpelado por ele “do que está rindo? Achou que eu fosse uma máquina de latidos e dejetos?”. Não, Juca, longe de mim. Engoli os outros sorrisos que estavam na fila, e tratei de escrever o texto até o fim. Ria por dentro, pra mim. Interessante poder partilhar tantas coisas com um cachorro. Acho que até me senti mais humano. Ao final do ditado, ele me pediu uma última coisa: por favor, tire os “au” do texto, para não ficar muito repetitivo)


Cadeiras perdidas num emaranhado de espaços vazios, outrora cheios de mesas e pessoas. São as mentes inquietas que fervem o ar gélido desta manhã não tão fria, enquanto pensam em todas as possibilidades existentes, de tudo o que não foi e, provavelmente, nunca será. São estas pessoas, que hoje estão aqui, ao meu redor, que sonham suas decepções e vontades. Externam sorrisos, olhares, expressões, enquanto mantém para si mesmas todo o resto.
E é sempre este resto o que mais importa.
O que faço eu aqui?
Eu, que sou um pouco de tudo isso que acabo de descrever, talvez com mais decepções, menos vontades. Ou o inverso. Inverso do espaço. Inverso das pessoas. Inverso de mim mesmo. O contrário da descrição que vaza da minha cabeça e flui, na forma de impulsos elétricos, através dos dedos que digitam estas palavras. Escrevo, portanto, sem saber ao certo quem sou e o que sou, mesmo havendo um sentimento de unidade dentro de mim.

As cadeiras, as mesas, os papéis são os itens que preenchem este espaço que me rodeia. Mas bem poderiam ser outros tantos objetos, de outras tantas cores que não este marrom madeira ou branco papel. Mas o que seriam eles, se diferentes fossem, mais do que um mesmo preenchimento? Objetos diferentes, mas uma mesma função. Iguais, portanto, em sua diferença.

Diferente eu, então, disto que me rodeia? Diferente, eu, destes que me rodeiam?

Inversamente diferente até o ponto em que me torno igual?

Onde começa o início de mim e onde termina o meu final? Onde acaba o eu e começa o não-eu?

Quem sou eu (versao completa)

Como me impediram de postar quem sou eu no espaço reservado para isto, aí do lado esquerdo, resolvi me utilizar deste outro espaço, destinado a coisas mais importantes do que falar sobre a minha "pessoa".

Quem sou eu? Algo próximo do que se descreve abaixo desta frase que termina neste ponto final.

Olá, eu sou o Juca. Me disseram que para fazer sucesso é preciso ter um nome bonito, algo chamativo, pop, universal. Mas eu não sou muito bom nisso, afinal sou um simples cachorro vira-lata que vive numa casa normal, com donos normais. Mas eu sou curioso, chato e prepotente ao ponto de me achar uma pessoa. Me acho várias outras coisas também, menos humano. Isso nunca. A parte do que sou, existe o eterno deleite que a observação do mundo, das coisas e das pessoas me causa. Me divirto, me encanto, me entristeço e me inspiro só de observar tudo o que me rodeia. Pode ser essa parede branca ou o tampo de vidro sob o qual me deito todos os dias. Mas, claro, o que mais me chama atenção são as pessoas humanas, suas interações entre si e com o mundo. Sou tão marcado por tudo isso que, num dado momento da minha vida, resolvi parar de “apenas” pensar e começar a escrever estas minhas impressões. Não porque as julgue importantes. Não, longe disso. Apenas porque elas são tantas que estão causando um certo incômodo aqui dentro do meu cérebro, que é pequeno, como todos sabem. Um minuto, ouvi um barulho, vou até a porta latir (será que eu devo escrever “latidos ao fundo” para transmitir mais veracidade a este relato?). Pronto, voltei. Então, cansado que estou de apenas olhar e pensar, resolvi vir aqui falar e dividir, porque acho que é disto que o mundo precisa, diálogo, comunicação, divisão. Não pela importância do conteúdo que quero transmitir. Quantas e quantas pessoas já pensaram, pensam e vão pensar sobre isso. Quantos gênios já escreveram as mais belas obras sobre estes temas que nos permeiam (obras que não li, por motivos caninos óbvios). Mas, no fundo, nada é de ninguém e tudo é de todo mundo (se é que há alguma outra afirmação mais inócua que esta, por favor, me avisem). Porém, embora ache que tudo é de todos, tenho que admitir que existe uma exceção: a minha bolinha. Ela é só minha. Logo, como eu tenho a minha exceção, creio que todo mundo tenha a sua e, de tanta exceção, vivemos num mundo tão complicado e dividido. Todo mundo se matando para delimitar suas posses, o que é seu e o que pode ou não ser do outro. Todo mundo querendo tudo pra si (ah se todo mundo tivesse uma bolinha como a minha...). Ou vocês acham que eu não vejo TV, não ouço rádio, não acesso a Internet? Sou um cachorro moderno. Estou conectado ao mundo, das mais variadas formas. Já mandei até email para o SAC da fabricante da minha ração! Sou tão moderno que as dores do mundo que afetam vocês, pessoas humanas, passaram a me afetar também. Eu também sofro, choro por um sem motivo de coisas. Também tenho depressão. Minhas crises existenciais são tão extensas e profundas quando as de vocês. Já me espantei com Sócrates, Aristóteles. Já passei por Locke, Hume. Até Santo Agostinho já me tomou tempo. Mas superei esta fase, e também já gritei aos quatro ventos através dos meus latidos “Deus está morto”. Aliás, assim também falou Zaratustra, com razão e bem antes de mim. Já partilhei da náusea de Sartre, e do pessimismo realístico e mal-interpretado de Schoppenhauer. Por essas e outras me chamam de Juca, o cão filósofo. E como achei que houvesse um pingo de “marketing” nesta alcunha, resolvi adotá-la, e assim me descreverei daqui pra frente. Espero poder dividir e comunicar o que sinto e o que penso. E, pra terminar, não se surpreenda se os sentimentos e os pensamentos de um cachorro como eu não forem tão diferentes dos seus.