quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pensamentos de um dia preguiçoso

(Juca, o cão filósofo, acordou hoje com um pouco de preguiça, e pediu para que eu anotasse o que ele iria ditar. Quem sou eu para lhe negar alguma coisa? A cada palavra escrita ia me surpreendendo. Positivamente, claro. E não é que aquele cachorro pensava umas coisas interessantes? Dei um sorrisinho após o terceiro parágrafo, e fui interpelado por ele “do que está rindo? Achou que eu fosse uma máquina de latidos e dejetos?”. Não, Juca, longe de mim. Engoli os outros sorrisos que estavam na fila, e tratei de escrever o texto até o fim. Ria por dentro, pra mim. Interessante poder partilhar tantas coisas com um cachorro. Acho que até me senti mais humano. Ao final do ditado, ele me pediu uma última coisa: por favor, tire os “au” do texto, para não ficar muito repetitivo)


Cadeiras perdidas num emaranhado de espaços vazios, outrora cheios de mesas e pessoas. São as mentes inquietas que fervem o ar gélido desta manhã não tão fria, enquanto pensam em todas as possibilidades existentes, de tudo o que não foi e, provavelmente, nunca será. São estas pessoas, que hoje estão aqui, ao meu redor, que sonham suas decepções e vontades. Externam sorrisos, olhares, expressões, enquanto mantém para si mesmas todo o resto.
E é sempre este resto o que mais importa.
O que faço eu aqui?
Eu, que sou um pouco de tudo isso que acabo de descrever, talvez com mais decepções, menos vontades. Ou o inverso. Inverso do espaço. Inverso das pessoas. Inverso de mim mesmo. O contrário da descrição que vaza da minha cabeça e flui, na forma de impulsos elétricos, através dos dedos que digitam estas palavras. Escrevo, portanto, sem saber ao certo quem sou e o que sou, mesmo havendo um sentimento de unidade dentro de mim.

As cadeiras, as mesas, os papéis são os itens que preenchem este espaço que me rodeia. Mas bem poderiam ser outros tantos objetos, de outras tantas cores que não este marrom madeira ou branco papel. Mas o que seriam eles, se diferentes fossem, mais do que um mesmo preenchimento? Objetos diferentes, mas uma mesma função. Iguais, portanto, em sua diferença.

Diferente eu, então, disto que me rodeia? Diferente, eu, destes que me rodeiam?

Inversamente diferente até o ponto em que me torno igual?

Onde começa o início de mim e onde termina o meu final? Onde acaba o eu e começa o não-eu?

Um comentário:

  1. José, José. Ou melhor, Juca. Juca. Você sempre tem impressões do mundo que são muito, muito interessantes. Você tem um jeito de olhar para as coisas que não tem igual! Incrível essa idéia. O minímo que você pode fazer é dividir isso. Dividir, caracterísitica tão marcante da pessoa que o traduz para à nossa linguagem e escreve esse blog. Pobres, nós, seres humanos, infiéis a nós mesmos que não somos capazes de partilhar de tal observação. Abs Leite.

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