(Hoje meu dono pediu um favor pra mim. Pediu para que eu cedesse um post do meu blog para que ele pudesse externar sua indignação para com uma coluna de cunho preconceituoso que foi publicada pelo Sr. Cláudio Lembo no sítio "Terra Magazine". Obviamente que fui ler a coluna antes de dar o meu parecer favorável à utilização ou não do meu blog. Aquele senhor é criativo e capaz de enumerar algumas das maiores inverdades. E demonstra, claramente, seu preconceito e falta de respeito para com as pessoas que pensam de forma diferente da dele. Uma pena que o povo desta cidade esteja sujeito a um pensamento tão obtuso como o dele. Sorte a minha que sou cachorro. Aí vai a opinião dele. Do meu dono, claro. Opinião da qual partilho, diga-se de passagem. E que deus proteja a democracia)
Foi com tristeza que li a última coluna do Sr. Claudio Lembo, figura expressiva no mundo político e jurídico de São Paulo, inclusive ocupando o cargo de governador, que pretendeu associar diversos aspectos negativos da sociedade mundial atual, como o consumismo capitalista, alem de todas as mazelas do mundo, a um eventual crescimento do ateísmo em países do primeiro mundo.
Aliás, além de preconceituosa, tal coluna faz assertivas no mínimo precipitadas, especialmente quando associa, por exemplo, "pensamentos ateus" com práticas de "hedonismo selvagem". Não me arrisco nem a solicitar a bibliografia a partir da qual o Sr. Claudio Lembo extraiu tais dados. Suas afirmações, antes de serem frutos de pesquisa científica, são originárias de sua intolerância, característica esta bem comum entre pessoas religiosas e responsável por diversos dos mais graves problemas que já assolaram a humanidade, do passado longínquo até os dias atuais.
Uma pena que um espaço tão democrático e laico como o "Terra Magazine" tenha publicado um conteúdo como este.
Vale ressaltar, inclusive em nome da democracia que defendo, que o Sr. Lembo tem todo o direito de acreditar ou não em deus, ou em qualquer outra coisa que julgue digna e merecedora de sua fé. Mas não tem direito, em nenhum momento, de proferir palavras tão preconceituosas e mal embasadas contra um certo grupo de pessoas especificamente pela natureza de sua fé, ou, no caso, pela ausência dela.
O preconceito demonstrado pelo autor é tamanho que o cega para fatos corriqueiros na história da humanidade que nos mostram um cenário diametralmente oposto ao descrito por ele em sua coluna.
As mazelas do mundo atual e os problemas que assolaram a humanidade ao longo de sua história foram realmente causados pelos ateus? Ou será que eles tem uma relação mais “íntima” com a religião, especialmente com a tal religiosidade ocidental, mencionada pelo Sr. Lembo?
Vamos aos fatos.
Um breve e não muito aprofundado estudo das religiões, especialmente os grandes monoteísmos “ocidentais”, nos mostram o quão recheadas estão, por exemplo, das tais práticas "hedonísticas e selvagens", mencionadas pelo autor. Devo aqui enumerar os casos de violência sexual, abusos, mortes, guerras e, claro, gastos exorbitantes? Quem, durante grande parte da história européia, deteve mais de um terço das terras daquele continente, enquanto a imensa maioria do povo vivia em condições de miséria, em épocas que precederam o iluminismo? Foi uma instituição atéia que recebeu terras italianas, isenção de impostos e repasse de tributos, ganhando dinheiro a partir de cidadãos que durante anos pagaram (e ainda pagam, pasmem!) “compulsoriamente” para esta instituição? Foi esta mesma instituição aquela capaz de fazer "vistas grossas" ao crescimento de Hitler e Mussolini? Qual evento militar, especialmente os de grandes proporções, que assolou a humanidade, que não foi causado por conflitos religiosos, e mesmo por uma vontade da própria Igreja Católica de aumentar seus domínios, seu poder, sua influência? Ou será que o Sr. Lembo conhece algum ateu que seqüestra aviões e os conduz contra prédios?
Ora, é extensa a lista de agravantes contra a religião e suas práticas. Posso ficar aqui descrevendo inúmeros casos, uns mais famosos do que outros, mas todos deixando claro que quem promove guerra, intolerância, mortes, "consumismo", "materialismo", "niilismo" e "hedonismo", para usar alguns dos termos citados pelo Sr. Lembo, é justamente a religião, e não a ausência dela, como, equivocadamente, quer nos fazer acreditar o autor daquela coluna.
A campanha citada por ele em sua coluna, inclusive, possui em seu âmago democracia, respeito e tolerância, características estas que faltaram ao colunista em questão.
Aliás, infelizmente, tem sido algo corriqueiro este acesso de intolerância por parte de algumas pessoas religiosas quando outros cidadãos expressam opiniões diferentes.
(Diga-se de passagem, e esta afirmação é de enorme importância, que os ateus não consideram que todas as pessoas religiosas partilhem de uma postura preconceituosa, belicosa, intolerante).
Quer uma amostra que comprova esta minha última afirmativa, a que veio antes dos parenteses supra destacados? Então vamos voltar ao texto do Sr. Lembo.
Não satisfeito em atribuir ao ateísmo a culpa por todo o problema que o sistema capitalista tem enfrentado, o Sr. Lembo ainda vai mais longe. Ignorando a riqueza da Igreja Católica, de seus bancos existentes dentro das fronteiras intransponíveis do Vaticano e que investem os bilhões de dólares em mercados mundiais, visando ao lucro, obviamente, o autor ainda classifica os cidadãos ateus como "individualistas" e "niilistas", como se fossem estes últimos os causadores da crise, do consumismo exacerbado que caracteriza nossa sociedade.
Ora, Sr. Lembo, houve algum personagem histórico mais niilista e individualista que o Sr. Bush, religioso fervoroso que fazia tudo em nome de deus?
Ou o senhor poderia nos contar o que fez a igreja católica contra os nazistas e fascistas na época da segunda grande guerra, mais especificamente a natureza da relação daquela instituição com o ditador Mussolini?
E as crises da igreja católica, em épocas passadas, por causa do dinheiro que geravam com a venda de imagens?
O que tem o Sr. Lembo a dizer sobre a FORTUNA que a Igreja Católica possui, parte dela fruto de impostos específicos pagos pelos cidadãos italianos, prática esta instituída na época de Mussolini, figura política conhecida por suas práticas "individualistas", e contra quem nada fez para deter a ascensão?
Enfim, diante de alguns poucos fatos, fica claro o “equívoco” do autor ao tentar tornar o ateísmo uma seita responsável por todos os problemas existentes em nossa sociedade. O Sr. Lembo trata desrespeitosamente aqueles que exercem o direito democrático de não possuírem crença religiosa, inclusive como se quisessem recrutar novos "servos" e dominar o mundo, numa tentativa mesquinha de atribuir aos ateus uma prática corriqueira de alguns religiosos. São estes últimos que promovem passeatas pelas cidades, que usam a mídia extensivamente atrás de novos fiéis, que cobram dinheiro de seus seguidores por um lugar no céu ou que demonstram toda sua intolerância perante uma opinião diferente.
Aliás, qualquer semelhança com o conteúdo da coluna do Sr. Cláudio Lembo (não) é mera coincidência.
Por fim, gostaria que fosse registrada a minha manifestação e, em nome da democracia e laicicidade do Estado Brasileiro, fosse publicada esta "réplica". Seria bom, inclusive, que informassem ao senhor autor de que ateus são aqueles seres humanos que, do alto do gozo dos seus direitos constitucionais, olham para o mundo e, a partir do pouco de inteligência de que são dotados, enxergam sua beleza sem precisarem de "algo mais".
Quiçá a imensa maioria do mundo também fosse capaz de usar a inteligência de uma forma mais agregadora, compreensiva, e não em prol de pensamentos e atitudes intolerantes e preconceituosas.
Inclusive o Sr. Lembo, figura das mais expressivas e dotada de notável capacidade intelectual, mas que infelizmente não fez uso pleno de suas faculdades em sua última coluna.