sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

O auto-processo de um auto-engano



(Hoje o Juca, o cão filósofo, estava introspectivo. Achei que gostaria de escrever sobre algo. Até coloquei o notebook ligado na frente dele. Mas não adiantou. Ele saiu de seu cantinho e foi para algum outro lugar, queria ficar sozinho. Se ele escreveu algo ou não, eu não sei. O computador continua ligado lá na sala. Já o ensinei a postar os textos...)


Se escrever sobre qualquer assunto fosse o suficiente para renovar minha vontade eterna de falar sobre tudo que sinto e penso, teria escrito um sem número de contos e textos. Quiçá livros. Obras inteiras, vastas, volumosas.
Mas não.

Escrever alivia a angústia de ter o que falar. E o curioso, e paradoxal, é que, se não tenho esta angústia, também me foge a vontade de me expressar.

Portanto, o ato de escrever significa, pra mim, o início do não escrever.

É a causa retroalimentando sua própria destruição.

É a relação de reciprocidade que o início estabelece com seu próprio fim.

O remédio para a minha angústia é o mesmo causador do seu início.

Como se um antibiótico fosse a própria bactéria a qual se propõe a eliminar.
Pois se paro de escrever, me angustio mais. Se me angustio mais, sinto mais vontade de escrever, e assim o faço simplesmente para parar em seguida, quando a angústia se esvai. E tudo retorna ao início.

Este é o processo cíclico da relação que estabeleço com a minha angústia psicológica. Se o há, sobre seu conteúdo escrevo. Escrevendo, o incômodo se esvai, levando consigo as palavras.

É o eterno recomeço, aquele sobre o qual tanto já se falou nestes e em outros tempos.

Entre devaneios e pausas, descobri uma solução ardilosa, por assim dizer. Ou engenhosa, se preferir. Paradoxal, sem dúvida. E aqui estou eu a contornar a questão fazendo uso da mesma técnica: se com a escrita a angústia se vai (ora, para onde iria?), sobre sua partida escreverei, pois estão se esvairá a partida e a angústia não mais poderá ir para nenhum outro lugar que não a minha mente.

Engano a angústia, tomando-lhe a liberdade de partir.

E fazendo isto prolongo meu sofrimento.

Engano a mim mesmo duas vezes.

E sigo-o fazendo por todo sempre.

Saber enganar-se é, em essência, saber ser feliz.

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