sexta-feira, 17 de abril de 2009

Metade


(Acordei para mais um dia iguais a tantos que já foram. Iguais especialmente naquilo que os diferem entre si, e que me permitem sentir a passagem de cada um como se fossem únicos. Estou com sono, não me deixaram dormir na cama hoje, e o chão me pareceu mais duro do que o normal. Acordei algumas vezes, vim até a sala, tentei ficar no tapete. Mas nada era como antes. Nem o tapete tão confortável, nem o sono tão pesado. Era tudo pela metade. Era um meio sono num chão meio confortável. Então estou meio acordado, nesta meia percepção de mundo, e escreverei um meio texto sobre quase tudo isso. Ou sobre a outra metade que me escapa)

Hoje eu estava com sono.

Uma preguiça grande, indescritível.

Olhava para fora, via os tons de verde misturados ao concreto humano de várias cores e formas.

O cinza do céu ressaltava os tons monocromáticos da intervenção humana no mundo.

E eu lá, deitado, apreciando o que se pode apreciar deste quadro sem arte alguma.

E pensando que talvez esta falta de arte fosse, na realidade, a arte em sua manifestação mais singela.

Um pássaro pousou na varanda e está a observar-me tanto quando eu o observo.

Ele pega a comida que deixaram pra ele, sem tirar o olho de mim, como que desconfiado da minha calma aparente, devora o que lhe cabe e alça vôo para algum lugar.

Com ele leva parte do que penso e do que sinto.

Mas deixa esta preguiça.

Eu fecho os olhos.

E duvido que possa pensar em mais alguma coisa.

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